segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Não deixe o circo pegar fogo! (publicado no Diário de Guarapuava e do Sudoeste)

Me lembro uma vez em que eu entrevistava candidatas pra trabalhar conosco. Uma delas, uma senhora, quando abri a porta passou em cima do jornal que o entregador tinha deixado na soleira da porta logo cedo e entrou. Repito, passou por cima do jornal literalmente e entrou. Não acreditei, pensei em pedir pra ela nem entrar e cancelar a entrevista...
Esse episódio reporta ao que hoje as empresas buscam, que é a chamada competência (soma do conhecimento, atitude e habilidade – CHA) e o que acontece com os talentos internos de uma organização.
O total descomprometimento da candidata que citei, esbarra com certeza na Atitude. No mínimo uma gentileza em juntar o jornal nem que fosse pra impressionar na entrevista...(talvez tenha pensado que era um capacho de entrada – olha que não tinha pensado nessa opção!).
Em recente pesquisa com focus groups que realizei com empresários, gerentes de pessoas, headhunters e profissionais liberais, a queixa era unânime: o que as empresas mais precisam, independentes do conhecimento, é a atitude de seus colaboradores!!
Sempre refleti que um colaborador não entrega seu trabalho por dois motivos: porque não sabe – imediatamente ofereça treinamento (conhecimento); ou porque não quer (atitude) – passe-o pra outro setor, mas de uma forma responsável analisando onde pode contribuir. Em últimos casos demita, pois uma pessoa desmotivada ou pior ainda, motivada na contramão das estratégias da empresa é a pior encrenca. Hoje os pesquisadores de comportamento e gerentes de pessoas já detectam outra situação, que é o conhecimento, mas com o boicote na entrega. Atitude em falta! O colaborador conhece, tem habilidade, mas por algum motivo, boicota a entrega!
Os gestores de empresas de qualquer porte têm que estar atentos verdadeiramente com seus colaboradores. Não adianta somente no final do ano ou agora, no início, fazer discurso, chorar, abraçar e em menos de dois meses, cobrar metas inatingíveis ou ser incoerente entre o que fala e o que faz.
Motivação é de dentro, é pertencer, é saber qual sua função e importância na engrenagem e resultado dos negócios. O reconhecimento, o encorajamento pra correr riscos, orientar e apoiar no ajuste dos rumos, têm que fazer parte da cultura da empresa.
Não adianta investir em brindes pros clientes, publicidade, etc, etc, e se esquecer do principal que são seus colaboradores. Um bom planejamento interno e uma boa comunicação interna são pontes para que as pessoas cheguem mais rápidas, seguras e felizes aos resultados planejados. Mas tudo planejado, não de forma aleatória ou somente quando o circo já está pegando fogo!
(foi publicado nos Diário de Guarapuava e do Sudoeste em janeiro 2009)

5 comentários:

Bárbara disse...

Adorei!
E acho que essa ATITUDE não deve ficar restrita ao ambiente de trabalho. Temos que viver assim, adotar isso no nosso-dia-a-dia também.

Um abraço,

Bárbara.

Tatiana Lazzarotto disse...

Sulamita, gostei muito do texto, como disse anteriormente quando o li no jornal. Além de ser atrativo do início ao fim, você clicou no ponto certo quando fala de atitude. Acho que isso é o principal, quando falta motivação quase tudo está perdido. Gostei também de você analisar a questão sob diferentes óticas, incluindo a parte que cabe aos gestores. Enfim, perfeito.

Mulheres de Atenas disse...

Já passei por isso na pele de colaboradora e sei o quanto é difícil quando vc não se sente valorizada no ambiente profissional. Parabéns, belo texto.

Anônimo disse...

Oi, Sulamita.
Só fiquei com uma dúvida... o "colaborador" é o antigo "empregado" ou "trabalhador"?

Porque se for... é melhor ele não saber muito bem "qual sua função e importância na engrenagem e resultado dos negócios", ou vai descobrir que, provavelmente, ganha menos do que merece e muitas outras coisas que é melhor ficar na sala da diretoria. Pior ainda se houver um sindicato bem organizado na empresa, né? Mas isto é coisa rara hoje em dia.

Bem, é claro que minhas considerações acrescentam pouco, pois escrevo da perspectiva de um trabalhador, ops, colaborador, cuja colaboração é dispensável (leia-se demissível).

Beijo.

Unknown disse...

oi Rodrigo, sim é o trabalhador. Sao terminologias que mudam de tempos em tempos, como RH pra Gestao de pessoas, por exemplo. Isso tudo tem uma explicação.Mas quanto ao que falamos de saber ou nao saber o que acontece, considerei quando escrevi, uma empresa que respeite pelo menos os principais pilares de sustentabilidade: economico, ambiental e social! oras se é uma empresa sustentavel, ela irá querer que seus colaboradores saibam quais suas metas e qual seus papeis naquela tarefa, naquela acao, naquele planejamento. É a batida história de quem `empilha tijolos e quem constrói catedral`....se você sabe pra que está `empilhando tijolos`, sabe da importancia de seu papel e seu dia a dia é mais leve, mais comprometido, mais realizador...e digo mais: se a pessoa tem um chefe explorador, etc e tal, o ideal seria que se planejasse pra puxar o carro! ou entao veja o quanto voce aguenta, mas seja consciente disso pra não afetar de outras formas(`cada um sabe a dor e a delicia de ser o que é`, ja diz nosso Caetano). Tem falta de emprego, tem...é uma realidade mundial...mas o emprego, no formato como está, no modelo industrial exploratório, já está se extinguindo há muito! por isso, se for o caso, procure uma empresa sustentável pra trabalhar! e volto a dizer, e vender meu peixe, é lógico (rs): com um bom planejamento interno e com uma comunicaçao bem elaborada, com linguagem e meios adequados pra cada nível de colaboradores, os resultados são atingidos mais rapidamente! Falo não da boca pra fora...já tive a oportunidade de trablhar em ambientes exploratórios...o colaborador até pode ficar um tempo por lá ou pra sempre...mas é estresse, dor de estomago, enxaqueca... as dispensas médicas são maiores, os acidentes internos e entregas erradas são maiores...por que será...em qualquer nível!! seja um executivo ou chão de fábrica! espero que tenha esclarecido, porque esse assunto vai longe e tem um monte de relacoes interessantes de se discutir e analisar... jogos de poder, interesses nao só econômicos, ganha-ganha, ganha-perde, manipulacao...Qualquer coisa, nos falamos mais!
ah sim, e quanto a atitude, ela faz falta sim no ambiente de trabalho ou em qualquer ambiente, como bem escreveu aqui a Barbara. Veja quado você é atendido numa loja...veja o trânsito...veja quantas vezes você é atropelado pelo carrinho de supermercado, pelos COLABORADORES...atitude! saber seu papel, senão fica trablhar por trabalhar...escravidão...salário simplesmente, sem fazer a diferença! bjs